Materia de Jornal - Pesquisa -
Mercado instável: perda do valor das empresas na Bolsa contribui para baixa de preço dos imóveis
Karine Tavares - Extra 02.06.2012
RIO - Em julho de 2010, quando o mercado imobiliário vivia o auge de sua euforia, as ações das 20 maiores companhias do setor, segundo ranking da Economática, valiam juntas R$ 53,1 bilhões. Hoje, a soma das 20 construtoras com maior valor de mercado fica em torno dos R$ 33 bilhões. A instabilidade da Bovespa ajuda, e os números variam diariamente. A perda do valor de mercado, no entanto, já vem sendo sentida desde o ano passado.
A PDG Realty, por exemplo, cujas ações chegaram a somar R$ 11 bilhões e que chegou ao topo do ranking do setor, fechou a quarta-feira em R$ 3,8 bilhões.
— As grandes empresas do setor diversificaram demais suas áreas de atuação, ficaram grandes demais e não conseguiram manter os controles necessários em uma atividade em que o monitoramento constante deve ser intensivo — acredita Felipe Miranda, analista de construção civil da consultoria Empiricus.
Depois da crise mundial de 2008, o setor da construção civil passou por um grande momento, com o número de lançamentos batendo recordes e empreendimentos sendo completamente vendidos antes mesmo dos lançamentos, além da forte alta de preços. Esse tom do mercado imobiliário se refletiu na bolsa e as ações das empresas dispararam. Agora, aquelas que não fizeram um bom planejamento — de custos, pessoal e número de obras — estão pagando a conta.
— O problema está associado ao alto risco de execução desse setor. As empresas acreditaram nos altos números de venda. Na hora de entregar a obra, o problema apareceu e a ficha das empresas caiu — continua Miranda. — Quem percebeu isso e focou suas obras regionalmente, já começa a se recuperar. Quem continua diversificando, ainda tem problemas.
Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio, Roberto Kauffman admite: algumas empresas deram importância excessiva à condição financeira, relegando, a segundo plano, a construção.
— As empresas se capitalizaram, mas deixaram a produção para trás. E não adianta nada ter valor, se as obras estão atrasadas. Elas precisam agora investir em inovações tecnológicas e capacitação de mão de obra para se recuperar.
Mas como o tombo das empresas na Bovespa afeta o consumidor? No preço dos imóveis, que tende a cair.
— Essas empresas precisam de capital de giro. E qual a melhor forma de fazer esse caixa rapidamente? Vendendo os imóveis que estão em estoque, mesmo que isso seja feito a um preço mais baixo — analisa o economista Roberto Zentgraf.
Empresas dizem que crescimento continua em menor ritmo
Apesar da perda de valor de mercado acumulada este ano, algumas empresas prometem responder produzindo. É o caso da MRV. A construtora — que na quarta-feira passada era a segunda em valor de mercado (R$ 4,2 bilhões) no ranking da Economática e também vem acumulando perdas ao longo do ano (no fim de 2011, valia R$ 5,1 bi) — sempre esteve voltada para os imóveis populares e não pretende mudar seu foco de atuação para enfrentar a crise na bolsa.
— Temos um mercado forte, disponibilidade de financiamentos imobiliários e uma ótima operação. Não vamos mudar estratégias em função do comportamento do mercado de ações. Minha resposta a isso é produzir — diz Leonardo Corrêa, diretor financeiro da companhia.
Segundo Corrêa, apesar de ter apresentado um resultado aquém do esperado no primeiro trimestre deste ano (lucro líquido de R$ 116 milhões — 23,9% menor que no mesmo período do ano passado), a empresa ainda mantém uma operação forte.
— Como nosso foco é na classe C, sofremos mais com questões macroeconômicas como emprego e renda. E esse é um setor muito peculiar. Quando a economia está bem, nossas ações sobem acima do Ibovespa. Quando está mal, ficamos ainda pior — completa o executivo, lembrando que a crise europeia e riscos globais também têm impacto sobre as ações por aqui.
Mas as principais causas, apontadas pelas empresas, para o "inferno astral" que estão vivendo são o aumento de custos dos materiais de construção, falta de mão de obra e o consequente atraso na entrega dos empreendimentos.
— Um dos grandes problemas que essas empresas enfrentam hoje é fazer o orçamento final convergir com o inicial — explica o analista Felipe Miranda, da Empiricus.
Mais unidades no mercado, preços menores
Atualmente em sétimo no ranking da Economática, com R$ 1,5 bilhão de valor de mercado, a Brookfield Incorporadora traçou planos diferentes para enfrentar a queda na bolsa. Um deles foi centralizar a operação entre Rio, São Paulo e Brasília, cidades que concentram cerca de 80% das operações da companhia.
O outro, criar um setor de relacionamento com clientes para identificar quem não conseguirá o financiamento na entrega e, quando necessário, retomar essas unidades. No primeiro trimestre, o volume de rescisões contratuais chegou a R$ 95 milhões.
— É um valor pequeno dentro do estoque de R$ 3,1 bilhões em comercialização que temos. Não afeta a companhia, nem o mercado — diz Cristiano Machado, CFO (chief financial officer) da Brookfield.
Para Machado, o mercado vive um momento de acomodação em que o crescimento está em ritmo mais lento. A expectativa para a Brookfield, que chegou a crescer 30% em 2010, por exemplo, é de expansão entre 8% e 10% neste ano.
— Agora, nós estamos no estágio de entrega de unidades e de maior geração de caixa vindo desses projetos.
O economista Roberto Zentgraf vê nisso mais um motivo para a queda dos preços:
— Se novas unidades saírem, haverá um teto até para os imóveis usados e, com isso, o mercado cobrará menos
Mercado instável: perda do valor das empresas na Bolsa contribui para baixa de preço dos imóveis
Karine Tavares - Extra 02.06.2012
RIO - Em julho de 2010, quando o mercado imobiliário vivia o auge de sua euforia, as ações das 20 maiores companhias do setor, segundo ranking da Economática, valiam juntas R$ 53,1 bilhões. Hoje, a soma das 20 construtoras com maior valor de mercado fica em torno dos R$ 33 bilhões. A instabilidade da Bovespa ajuda, e os números variam diariamente. A perda do valor de mercado, no entanto, já vem sendo sentida desde o ano passado.
A PDG Realty, por exemplo, cujas ações chegaram a somar R$ 11 bilhões e que chegou ao topo do ranking do setor, fechou a quarta-feira em R$ 3,8 bilhões.
— As grandes empresas do setor diversificaram demais suas áreas de atuação, ficaram grandes demais e não conseguiram manter os controles necessários em uma atividade em que o monitoramento constante deve ser intensivo — acredita Felipe Miranda, analista de construção civil da consultoria Empiricus.
Depois da crise mundial de 2008, o setor da construção civil passou por um grande momento, com o número de lançamentos batendo recordes e empreendimentos sendo completamente vendidos antes mesmo dos lançamentos, além da forte alta de preços. Esse tom do mercado imobiliário se refletiu na bolsa e as ações das empresas dispararam. Agora, aquelas que não fizeram um bom planejamento — de custos, pessoal e número de obras — estão pagando a conta.
— O problema está associado ao alto risco de execução desse setor. As empresas acreditaram nos altos números de venda. Na hora de entregar a obra, o problema apareceu e a ficha das empresas caiu — continua Miranda. — Quem percebeu isso e focou suas obras regionalmente, já começa a se recuperar. Quem continua diversificando, ainda tem problemas.
Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio, Roberto Kauffman admite: algumas empresas deram importância excessiva à condição financeira, relegando, a segundo plano, a construção.
— As empresas se capitalizaram, mas deixaram a produção para trás. E não adianta nada ter valor, se as obras estão atrasadas. Elas precisam agora investir em inovações tecnológicas e capacitação de mão de obra para se recuperar.
Mas como o tombo das empresas na Bovespa afeta o consumidor? No preço dos imóveis, que tende a cair.
— Essas empresas precisam de capital de giro. E qual a melhor forma de fazer esse caixa rapidamente? Vendendo os imóveis que estão em estoque, mesmo que isso seja feito a um preço mais baixo — analisa o economista Roberto Zentgraf.
Empresas dizem que crescimento continua em menor ritmo
Apesar da perda de valor de mercado acumulada este ano, algumas empresas prometem responder produzindo. É o caso da MRV. A construtora — que na quarta-feira passada era a segunda em valor de mercado (R$ 4,2 bilhões) no ranking da Economática e também vem acumulando perdas ao longo do ano (no fim de 2011, valia R$ 5,1 bi) — sempre esteve voltada para os imóveis populares e não pretende mudar seu foco de atuação para enfrentar a crise na bolsa.
— Temos um mercado forte, disponibilidade de financiamentos imobiliários e uma ótima operação. Não vamos mudar estratégias em função do comportamento do mercado de ações. Minha resposta a isso é produzir — diz Leonardo Corrêa, diretor financeiro da companhia.
Segundo Corrêa, apesar de ter apresentado um resultado aquém do esperado no primeiro trimestre deste ano (lucro líquido de R$ 116 milhões — 23,9% menor que no mesmo período do ano passado), a empresa ainda mantém uma operação forte.
— Como nosso foco é na classe C, sofremos mais com questões macroeconômicas como emprego e renda. E esse é um setor muito peculiar. Quando a economia está bem, nossas ações sobem acima do Ibovespa. Quando está mal, ficamos ainda pior — completa o executivo, lembrando que a crise europeia e riscos globais também têm impacto sobre as ações por aqui.
Mas as principais causas, apontadas pelas empresas, para o "inferno astral" que estão vivendo são o aumento de custos dos materiais de construção, falta de mão de obra e o consequente atraso na entrega dos empreendimentos.
— Um dos grandes problemas que essas empresas enfrentam hoje é fazer o orçamento final convergir com o inicial — explica o analista Felipe Miranda, da Empiricus.
Mais unidades no mercado, preços menores
Atualmente em sétimo no ranking da Economática, com R$ 1,5 bilhão de valor de mercado, a Brookfield Incorporadora traçou planos diferentes para enfrentar a queda na bolsa. Um deles foi centralizar a operação entre Rio, São Paulo e Brasília, cidades que concentram cerca de 80% das operações da companhia.
O outro, criar um setor de relacionamento com clientes para identificar quem não conseguirá o financiamento na entrega e, quando necessário, retomar essas unidades. No primeiro trimestre, o volume de rescisões contratuais chegou a R$ 95 milhões.
— É um valor pequeno dentro do estoque de R$ 3,1 bilhões em comercialização que temos. Não afeta a companhia, nem o mercado — diz Cristiano Machado, CFO (chief financial officer) da Brookfield.
Para Machado, o mercado vive um momento de acomodação em que o crescimento está em ritmo mais lento. A expectativa para a Brookfield, que chegou a crescer 30% em 2010, por exemplo, é de expansão entre 8% e 10% neste ano.
— Agora, nós estamos no estágio de entrega de unidades e de maior geração de caixa vindo desses projetos.
O economista Roberto Zentgraf vê nisso mais um motivo para a queda dos preços:
— Se novas unidades saírem, haverá um teto até para os imóveis usados e, com isso, o mercado cobrará menos
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